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terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Pesquisadores investigam longevidade de município amazônico


Às margens das águas negras do Rio Maués-Açu, ficam as comunidades típicas do interior da Amazônia. Vidas inteiras sem sair da floresta. Foi assim com o agricultor João Rocha, de 99 anos. Ele amanhece afiando o facão para mais um dia de trabalho na plantação de guaraná. É rotina há 40 anos. "Tenho 99 anos e estou trabalhando, graças a Deus", diz.

Está lá na carteira de identidade: a data de nascimento é 2 de fevereiro de 1910. Quando se casaram, dona Zenaide era adolescente. Ele, homem maduro de 47 anos. A família cresceu: eles tiveram 13 filhos.

"Sou meio fraco", brinca seu Rocha.

E seu Rocha não é exceção. No município de Maués, no interior do Amazonas, os idosos da floresta são tantos que causaram desconfiança. O número de aposentadorias chamou atenção do INSS. Por dois anos seguidos, auditores da Previdência foram a Maués para saber se havia algo irregular. De casa em casa, visitaram idosos com mais de 70 anos e constataram: todos os aposentados estavam bem vivos.

Proporcionalmente, o INSS encontrou no município o dobro de aposentados na comparação com Manaus. Ao todo, 1.692 moradores têm mais de 70 anos. Há mais homens idosos, o que também é incomum.

Com tantos idosos, a cidade teve que se adaptar. Criou atendimento médico e odontológico exclusivo para eles e um centro de convivência.

"Eu não me acho velho e nem tenho vergonha da juventude. Digo para meus colegas não se entregarem para a velhice", conta seu Milton Martins, de 80 anos.

A mais nova terra da longevidade na Amazônia sempre foi conhecida como a terra do guaraná. Seu Rocha vive na comunidade de Camarãozinho. A descida do barranco para a plantação de guaraná pode parecer um obstáculo, mas não para esse senhor de 99 anos. O guaranazal é do tamanho de 25 campos de futebol. Seu Rocha percorre, por dia, quatro hectares, tirando o mato que atrapalha a produção.

"Eu aguento, graças a Deus. Tomo uma copada de guaraná", revela o agricultor. A receita é prepara com guaraná em pó, xarope de guaraná, mirantã – uma raiz típica da região – e ainda castanha-da-amazônia, leite em pó, água e gelo.

Mas seria o guaraná um dos fatores que faz esta gente envelhecer tão bem? Doutor em gerontologia, o médico Euler Ribeiro é um dos maiores especialistas no envelhecimento do homem da floresta. Animado com o número de idosos em Maués, começa em julho uma pesquisa para descobrir as causas da longevidade na região. Uma das suspeitas recai justamente sobre o guaraná e sobre a alimentação rica e natural dos ribeirinhos.

"Nós temos o jenipapo, uma fruta com um odor maravilhoso, rica em vitamina C, um excelente antioxidante. A polpa do tucumã não é muito espessa, tem coloração alaranjada e é rica em caroteno, que é outro grande antioxidante. Nós, homens da floresta, já sabíamos disso há muito tempo", diz o médico gerontologista Euler Ribeiro.

Todos os moradores do município acima de 60 anos estão sendo avaliados. Os 1,2 mil mais idosos farão parte de uma pesquisa. Os cientistas querem saber por que em Maués eles vivem mais.

Durante três anos, a Universidade do Estado do Amazonas e outras seis universidades do Brasil e do exterior vão investigar as causas da longevidade. Além da alimentação, os pesquisadores querem saber se o meio ambiente, livre de poluição, e a genética contribuem para a vida longa. Exames de sangue vão revelar se os centenários têm no DNA as mesmas proteínas que os idosos de outras partes do mundo.

"Como nós estamos analisando os longevos de Maués, eu vou ver se existem esses alelos. Nós vamos fazer pesquisa genética", adianta Euler Ribeiro.

Seja o qual for o resultado, seu Rocha segue a rotina. Preocupação mesmo, só em tocar o trabalho com o guaraná. "Só vou parar quando ficar mais fraco e não tiver mais força. Agora, não", diz ele.

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